
Em um dos workshops, um objeto misterioso simbolizou um cabo submarino, levando os participantes a se envolverem, desenrolarem e apurarem a história, que foi dividida em três partes narradas a partir de diferentes pontos de vista.
De que maneira nossos corpos e trajetórias afetam a nossa possibilidade e os nossos limites na hora de documentar, apurar, construir uma investigação transmídia ou transdisciplinar?
O objetivo do projeto em andamento Arquiteturas Feministas de Investigação é explorar como entrelaçar perspectivas e trajetórias diversas que possam se complementar, questionar, provocar em profundidade. O ponto de partida é o jornalismo investigativo e sua união com metodologias feministas de pesquisa, mas aqui a palavra jornalismo não se pressupõe em nada universalizante. Pelo contrário, a proposta é um jornalismo que bebe da fonte e constrói junto com saberes e movimentos feministas e queer.
É, portanto, de investigação com o corpo que estamos falando. Um corpo que não é adicional, mas que faz parte do processo de identificar, construir, entender os limites de cada voz, que posicionalidades elas ocupam e como se complementam.. É assim que esse projeto adentra o terreno da justiça socioambiental, do direito à terra e territórios, para entender o fluxo de megaprojetos de infraestrutura em âmbito transnacional.
O projeto foca no desenvolvimento de arquiteturas de investigações feministas sobre megaprojetos, tanto digitais quanto não digitais, reconhecendo que a construção de perguntas sobre essas vastas iniciativas de infraestrutura é parte de uma jornada contínua moldada por experiências vividas, alianças, consciência das posicionalidades e desafios. Ele começou em 2023 durante participacao na Greenweb Fellowship, que permitiu que a jornalista transmídia Camila Nobrega, fundadora do Beyond the Green, pudesse se debruçar sobre o processo do próprio Beyond. A partir daí, ela montou uma série de workshops e partilhas performativas. Esse era o pontapé do projeto Arquiteturas Feministas de Investigações, que já participou de dois festivais feministas e dois encontros promovidos por artistas e pesquisadores na Alemanha.


Os workshops e partilhas reuniram artistas, ativistas, jornalistas, pesquisadores e outros participantes. Neles, o convite não é que os participantes apenas se engajem em discussões por meio de palavras, mas que as investigações, também possam partir dos sentidos, dos movimentos, navegando também entre ficção e não-ficção. Esse formato convidou os participantes a questionar seus próprios limites de percepção, sentimentos e lentes interpretativas, enriquecendo a exploração coletiva dos temas do projeto.
Ao abraçar formatos transmídia e uma estrutura feminista decolonial, o projeto busca explorar como esses megaprojetos—como represas hidrelétricas e infraestruturas digitais—reconfiguram territórios e impactam comunidades, muitas vezes sem seu consentimento. Essa abordagem enfatiza a colaboração e a necessidade de entender as complexas realidades que cercam esses projetos.
Além disso, o projeto tem como objetivo criticar narrativas tradicionais no jornalismo, que muitas vezes ignoram a interseccionalidade de gênero, classe e questões ambientais. Destaca a evolução das práticas de contação de histórias entre feministas que agora abordam dinâmicas de poder no discurso ambiental. Ao entrelaçar histórias e dados, o projeto convida a um diálogo contínuo sobre as implicações de gênero, identidade e justiça ecológica dentro do contexto dos megaprojetos. Em última instância, busca abrir novos caminhos para investigação e compreensão coletiva nesta área crítica.




